sexta-feira, janeiro 25, 2008

Cinema para o meu pai

Pai, senhor de seus sessenta e do qual eu carregarei o primeiro nome até o fim dos dias, resolvo a partir de este e com este primeiro filme lhe presentear (a cada vez que me der vontade) com uma obra audiovisual em que, assistindo, me lembre de ti. Uma obra audiovisual, pai..., um filme, de Cinema, aquilo que eu estudo na faculdade e atividade na qual já me iniciei. Até agora creio que nada eu tenha feito, nesta área, que o sr. aprecie, mas tenha a certeza que minha glória será quando eu conseguir desenvolver projetos que agradem primeiramente a pessoas como o senhor, pessoas simples na leitura e nas opiniões sobre a sensibilidade que uma obra artística pode causar - é pra isto que faço Cinema.

Este veículo desenvolve nossa visão e a muda algumas vezes, mas sempre sem criar muito alarde ou chamar muito a atenção. É uma pena que nem todos tenham acesso ao que é feito por aí, mas minha crença é que isto mude e que o Audiovisual seja uma das portas primeiras para um mundo de educação, cultura consciente e respeito.

Boas sessões, pai.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Continuidade

Isto aqui é sobre o momento. O momento, entende? Essa coisa de eternizar o segundo, eternizar a imagem e o som em perfeita sincronia (ou não). Isto é sobre a maravilhosa experiência de se olhar na tela e se ver, se ver em um momento capturado, um momento que não é mais esse. Olhe só: pá. Está vendo? Este “pá” que eu fiz há segundos atrás não se repetirá nunca mais e só teremos a possibilidade de vê-lo novamente porque inventaram o Cinema. E o Cinema se volta, dá a volta, revira a volta e se expõe sem mim. Olhe. (replay do “pá” e de tudo que foi falado depois disto). Entende? Depois que eu dei meu corpo e minha voz, meus movimentos, etcétera, eu me desvinculo do que foi criado e há vida própria. Se eu sair de cena tudo que está aqui atrás continuará sem mim (sai de cena), o mundo continua se movimentando e as coisas continuarão acontecendo eu querendo isto ou não, com a câmera parada ou na mão, em uma grua ou em um tripé. E por isto eu não sou essencial. (volta à cena) O ator, o Humano é desnecessário ao Cinema, percebe? Totalmente desnecessário. Este, o Cinema, nasceu com um trem chegando à uma estação e, sim, haviam pessoas na plataforma ou dentro do trem ou até mesmo pilotando-o, mas tudo seria do mesmo jeito se elas não aparecessem no filme dos Lumiére. Um trem chegando é tão simples e complexo quanto um trem chegando. E por isto que é uma idiotice esta coisa de falar demais sobre atuações ou complexidades dramaturgicas de um filme. Um filme... estamos falando de Cinema e isto é Um Cinema, está além do filme – que é só o material que serve ao espetáculo cinematográfico. Eternizar, entende? Eternizar! Cinema! Porém, nada seria tão interessante se não fossemos nós mesmos na tela... Entende? Nós, nós, nós. O Cinema existe para guardar-nos, capturar nossa alma, nosso momento único, nosso “pá” em hora feliz ou triste, importante ou puf – supérflua.

E também isso diz sobre as diferenças. Eu sou eu e apenas eu posso estar aqui. Ninguém pode se passar por mim, tentar me imitar ou vestir a persona Marina, compreende? Se alguém vier aqui, mesmo sendo o melhor ator do mundo, não conseguirá lhe enganar, porque isto aqui (bate na lente da câmera com os dedos) desnuda quem está à frente dela e – é só prestar um pouco de atenção, ela não mostra inverdades. Uma atuação é reconhecida, a alma é exposta. Você, (se exalta) caro expectador, só acredita naquilo que quiser acreditar. Acredite.

domingo, janeiro 20, 2008

O sorriso brasileiro é o que nos difere de outras etnias, de outras culturas. Não digo o fato de estarmos sempre sorrindo, não isso, isso outros fazem, mas o jeito largado de sorrir, o tom desabafado, limpo, sincero, escrachado, brando. Para entender que Alice Braga é Alice Braga em Eu Sou a Lenda tive que prestigiar seu sorriso, sua risada, e apenas quando ouvi esta sua expressão numa sala de Cinemark e ao lado de Will Smith que pude realmente identificar brasilidade além do sotaque e do inglês fácil de assimilar. E é bom vê-la em uma papel como este em um filme como este de lançamento como este. E estranho ao mesmo tempo, por há meses atrás ela estar com a gente pulando para comemorar a vitória do curta do Goddinho num território da universidade, por estar tão íntima do Cinema brasileiro como está hoje. É difícil entender a idéia de que o Cinema Brasileiro não é só para os brasileiros, entende? Que mais gente vê... Na verdade não a idéia de que mais gente vê, mas a idéia de que americanos vêem. Entende? Certamente não.














(que será que esta foto tem a ver?)

eu sou a lenda

Eu não sei em que pé estão as coisas com você, página de arquivos meus na internet. As coisas começaram a mudar, isso está um pouco angustiante, mas lembro de minha professora na 7ª / 8ª série que dizia que "Quem não muda morre lentamente". Eu estou lendo o livro Seminário dos Ratos, de Lygia Fagundes Telles e a intenção é ler apenas o conto que dá nome ao livro. Mas eu não leio só ele e, na verdade, nem o comecei a ler ainda, estou lendo os outros contos que o precedem e estes são maravilhosos, num estilo de escrita que jamais vi por aí, é uma coisa meio que no meu ritmo.

Quanto às mudanças, anuncio primeiramente minha mudança de turno na Universidade Anhembi Morumbi. Agora cursarei Cinema noturno, de que horas a que horas deve ser a aula? Estou curioso. Depois vem a Cinemateca, que me tira, obviamente, do horário noturno, isso se eu não tiver que sair de lá por causa de outro trampo, um trampo mais alogado, na produtora Raiz ainda. Mas estou um pouco com o pé atrás, meio desconfiado, não sei direito o que querem. Bem, as mudanças começarão por aqui. Não sei, eu quero outra coisa, quero outra coisa, quero me libertar dessa angústia que sinto no peito todo dia que fico mais tempo em minha casa. Queria poder ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar. Queria saber cantar.

Assisti Sin City ontem e gostei. Ia ao Cinema, numa sessão das 22:40h -Paranoid Park- aqui no Santa Cruz, mas fiquei com dó de meu dinheiro - resolvi pedir um pizza e ficar em casa. Talvez vá agora a tarde ver qualquer outra coisa, como o filme da Alice Braga com o Will Smith (Eu Sou A Lenda), sei não. Tudo vai depender desta chuvinha que cai fina (ou parou de cair) sobre a Vila Mariana neste domingo de janeiro de 2008. O que eu vou lembrar de janeiro de 2008 daqui um ano? Ou dois?

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Bia: Juniorrr!!! Tava vendo as fotnhos do seu album e deu saudade!!!!!!!!O tempo passa né?!!!! medo!!! estamos indo pro 3º ano!! já pensou nisso?!! absurdo!!!! beijãoooooooooo!

disponível para bate-papo Brenon Jr.:

pois é né, que bessurdão. não sei se vc passa pela mesma nóia que eu, acho que não. mas vc deve entender o que é não sentir-se adaptado ainda, querer outra coisa, achar que não era bem isso. Vamos para o 3º ano de Cinema, veja só, e tanta coisa mudou rápido demais pro meu gosto. Queria poder curtir mais todo mundo, CONHECER mais todo mundo. Essa seriedade que acabei criando (ou sempre tive, sei lá) me dá coisas, me dá vontade de não tê-la. Parece que os melhores tempos foram aqueles que eu podia sofrer por alguma coisa. Hoje, nada. Beijões e eu queria me prometer não ser apenas eu nestes próximos semestres. Queria ter a vontade de ser todo mundo. Mas, sinceramente, muitas vezes o todo mundo daquela Universidade me brocha. Olhe só, escrevi um texto.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Outra coisa.

Ao invés de ligar a TV ou fazer a barba eu resolvi postar. PO - star. Postar nessa minha casa que eu gosto tanto.
Estou animado com os novos trabalhos e vida pacífica em minha casinha montada com meu suorzinho. Também prevendo um carnaval diferenciado, mais sussa, mais gostosinho, sem muitos olhos conhecidos à volta. Quero começar a ir longe, viajar sem muita estrutura, conhecer lugares tocando as superfícies com os pés descalços e humildes. Estar mais perto do coração das pessoas e não só dos espaços que elas ocupam ou delas como espaço. Entende? Vamos comigo? Os próximos dias vão ser de pensamentos concentrados em futuro depois do carnaval; este ano tudo começa mais cedo. Este ano quero que a universidade seja uma extensão de tudo que estou aprendendo fora dela e tomara que eu consiga dar a atenção que o curso e que a oportunidade dele mereça, afinal, se não fosse ele nada teria começado a ser.

Agora já fiquei excitado com um outro papo num programa de comunicação instantânea e não consigo escrever mais nada. São lembranças, lembranças. Lembranças contadas e engraçadas. Ah, que o mundo volte a girar!













"E, como Dulce Veiga, eu quero outra coisa."

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Point

Scarlett Johansson! Scarlett Johansson! Scarlett Johansson!
Não há nem nada o que escrever sobre o filme porque acabei de assistir Match Point. Woody não é mais gênio por sua qualidade e quantidade de diálogos, mas principalmente por Scarlett inserida neste filme. Meu deus, ela é de outro mundo, ela é a melhor, ela é semi-deusa. Como um atriz tão boa pode ser tão linda? - pergunta banal, mas que não sai de minha cabeça pós filme com óperas trágicas.

Fico com invejas, acho, não sei. Me dá vontade de casar com uma atriz. Realmente ainda há esta minha paixão pelo Teatro, pela atuação, pela interpretação, pelo desligamento de corpo/mundo e de alma/corpo. Cada dia mais é mais difícil viver sem o mundo eufórico do Teatro, do povo de Teatro. Minha vontade é sair, gastar dinheiro nenhum e viver com a mente livre pra fazer o que quiser sem pensar, naquela hora, naquele momento. Ah, que saudades dos tempos de teatro em Mogi das Cruzes, tempo de TEM, de oficinas toscas, de Quântica, de esperar o ensaio do Grupo dos 13 acabar para meu corpo esquentar um pouquinho. Tempo de passar tempos e tempos esperando alguma coisa ou alguém no Largo do Carmo, reencontrando uma pessoa conhecida a cada 5 minutos.

Acho que deve ser a hora de dar um rumo mais carnal, visceral à minha vida. Quero o prazer barato e rápido dos que não têm muitos compromissos, dos que não ganham muito dinheiro, dos que não têm muitas coisas a fazer. Ah, que me permitam ficar sem fazer nada, achar coisas novas para fazer, conhecer novas pessoas pelo amor de Deus! Já estou com o saco cheio de meu circulozinho. Pareço pequeno, pareço sem vida, sem opções de pulos e cambalhotas. Eu não quero ter 20 anos, eu quero voltar. Alguém pode me dar a mão e me conduzir por este mundo de pé no chão novamente? Preciso arder.

eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome
cores de Almodóvar, cores de Frida Khalo, cores.
eu ando pelo mundo divertindo gente, chorando ao telefone
e vendo doer a fome nos meninos que têm fome.
eu ando pelo mundo e os automóveis correm para quê?
as crianças correm para onde?
transito entre dois lados. de um lado.
eu gosto de opostos...
exponho meu modo, me mostro.
eu canto para quem?

pela janela do quarto, pela janela do carro
pela tela, pela janela
quem é ela? quem é ela?
eu vejo tudo enquadrado. remoto controle.

eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
minha alegria, meu cansaço?
meu amor, cadê você? eu acordei não tenho ninguém ao lado...



terça-feira, janeiro 08, 2008

BBB 8 em 2008

Casa da Rua Capitão Macedo, na Vila Mariana. William esta na cozinha, finalizando seu jantar em uma bandeja, para poder trazer tudo para a sala onde vai comer e assistir televisão simultaneamente. Brenon chega antes à sala e diz em altura suficiente para que todos os três ocupantes da casa ouçam:

- Hoje começa o BBB 8!

- Ah, pára com isso Jr., diz William já vindo com seu prato da cozinha para a sala.

Brenon liga a TV e coloca no canal 18, Rede Globo na NET. Está passando Big Brother Brasil e Pedro Bial anuncia o comercial. "Mas antes disso, vamos dar uma espiadinha nos tripulantes da nave Big Brother..." e corta para as imagens das câmeras de segurança da casa. Brenon e William ficam definindo quais são os personagens incorporados por aqueles atores (sociais ou não) e isso leva algum tempo. Quando Brenon percebe, já se passaram mais ou menos 4 minutos e o intervalo comercial ainda não começou, estamos vendo os papos fúteis dos participantes da nave.

- Caramba, os comerciais não começam!

- Já começaram, Jr.

- Huahuahuahauhau///

na raiz

Nestes dias de janeiro há uma vontade enorme de aproveitar minha casa que se arruma e re-arruma a cada dia. Colocar um preguinho faltando aqui, colar mais um poster na parede, tomar café da manhã assistindo TV, passar minhas roupas com tranquilidade, ficar na varanda de meu quarto vendo as confusões de meu senhorio com seu comércio italiano lá em baixo, assistir aos DVDs ganhados/arranjados e juntando pó na estante. Quero ter uma coleção de DVDs e proximamente comprar uma TV ou projetor grande. Ou uma câmera com mais de 1800 linhas? Ou um carro? O melhor mesmo é jogar tudo num fundo de investimento e deixar lá.

Lendo e vendo fotos por aí veio uma vontade grande viajar. Brasil, Minas Gerais, Espírito Santo, aproveitar a vida calma de uma cidadezinha do interior de um estado que não seja tão corrompido pela sua capital, como São Paulo. Estou com uma vontade enorme de conhecer gente nova, gente simples, gente boba, gente interessante, fotografar momentos únicos em lugares onde não mais irei voltar. Como quando fui para São José do Rio Preto, como quando fui para Iguape e não atravessei a ponte que levava à Ilha Comprida. Ir para prainha Branca. Ficar com amigos inventando coisa pra fazer, viver com o compromisso distante de voltar para casa.

Enquanto isto não acontece vivo em minha casa na Vila Mariana, sexta-feira eu deixo os trabalhos constantes na Raiz Produções e terei as tardes para estar em casa, trabalhando (ou não) em meu quarto. Segunda as Salas Cinemateca voltam a infernizar minha vida e a me proporcionar risadas e bons filmes. E bons aborrecimentos. No final de semana tem uma festa de aniversário, alguém vai completar anos. Amém pra todos nós;

E eu quero adaptar Seminário dos Ratos.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Jesus no Mundo Maravilha

"Ele está matando o Tempo! CORTE-LHE A CABEÇA!" ordenou a Rainha de Copas aos guardas. E desde esse dia, o Chapeleiro Maluco – que, para o bem da literatura não perdeu a cabeça – e seus amigos, Arganaz e Lebre de Março, estão sempre tomando chá, porque por ter o Chapeleiro brigado com o Tempo são sempre 6 horas da tarde. Ao menos foi isso o que Alice encontrou no tal País das Maravilhas.

A cena mais famosa do livro de Lewis Carrol não me saía da cabeça enquanto assistia ao documentário Jesus no Mundo Maravilha. Não por simples associação de títulos, mas porque ao criar uma lógica aparentemente normal para um discurso aparentemente louco, o filme de Newton Cannito descreve o fato de que um mundo louco pode se viabilizar como normal.

Jesus no mundo Maravilha concebe um debate ético sobre ideais e condutas que levaram três homens a se tornar – e a deixar de ser - policiais. Jesus, Lúcio e Pereira, após uma vida inteira dedicada à Polícia Militar, foram exonerados. O filme trata de suas experiências, condutas, dificuldades e observações sobre um ‘estado de coisas’ da corporação. Mas o filtro por onde passam essas estórias, a interferência do diretor sobre os discursos é o grande diferencial aqui. Cannito manipula, engendra essas vozes em uma estética ousada, deslocando dramas e falas de seus ambientes e isolando-os numa locação pra lá de controversa: o filme se passa em grande parte num parque de diversões. Dessa opção, surgem personagens que inspiram tanto atração quanto repulsa.

Jesus, pai de duas filhas pequenas, e Lúcio, que buscou na profissão vingança para a morte da mãe, confessam logo no começo do filme que ser policial significava a concretização de um ideal de infância; Pereira enxergou na profissão uma licença para fazer justiça com suas próprias mãos. Na base destes discursos está uma idealização lúdica da Polícia, uma imagem mais ligada às mitologias dos quadrinhos e narrativas de ficção que a uma legislação judiciária. A pegada do filme é exatamente essa. Um parque de diversões como cenário de violência é tão surreal quanto o ‘discurso de criança’ aprisionado nos corpos daqueles homens. Isso faz de Jesus um documentário mais ficcional que qualquer ficção, onde, ao contrário daqui, o esforço está em criar uma impressão real. Se não compactuarmos com essa falta de lógica, com a forma como relações e pessoas estão sujeitas a essa falta de sentido, não conseguiremos embarcar no universo ilustrado por Cannito.

Mas essa ficção desmorona quando se percebe que existe um outro lado que sente na carne que esses homens, que pensam e agem como crianças, continuam sua performance fora da tela. É duro perceber que fora do filme, nem todo efeito visual é tão engraçadinho como parece. E aí, quem cai na real é o público.

Esse ‘outro lado’ toma forma nas falas de Lucimar Pereira e Eremito Santos, pais de Luís Francisco, assassinado por policiais quando saía de casa, pelo simples fato de ser negro, diz a mãe. Esses dois personagens pertencem a um outro universo, não habitam o parque de diversões, mas depõem para uma câmera tendo por trás um fundo neutro. Suas falas, duras e transbordantes de dor, contrastam com as falas picarescas dos ex-PMs, ‘maquiadas’ pelo diretor ao incorporarem efeitos especiais, músicas e ambientes das locações do documentário. Na última sequência do filme, Cannito simula um tribunal, onde esses dois lados são confrontados. Às secas palavras de Lucimar e Eremito correspondem os olhares baixos e deslocados dos ex-PMs, como crianças sendo repreendidas.

Jesus no Mundo Maravilha é crítica ácida e sarcástica a um regime de coisas do mundo, sem o menor comprometimento com qualquer moral politicamente correta. O diretor se arrisca em metáforas invasivas e algumas vezes maliciosas; não busca no discurso dos personagens a força do filme, mas sim ao sublinhar nas falas a ‘loucura’ daquilo que se relata como se fosse coisa simples e banal. Chutando o pau da barraca, rindo do que não se ri, seduzindo seus personagens ao colocá-los sob o foco da câmera, dando linha para a perpetuação da ilusão que ela produz, a força do filme surge mesmo é na forma de uma crítica mordaz à idéia de que uma imagem possa produzir qualquer tipo de verdade.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Vladimir: Então? Vamos fazer o quê?

Estragon: Melhor não fazer nada. É mais seguro.

Vladimir: Vamos esperar para ver o que ele acha.

Estragon: Ele quem?

Vladimri: Godot.

Estragon: Boa idéia.

Vladimir: Vamos esperar até que a gente saiba exatamente qual é a nossa situação.

Estragon: Por outro lado, talvez seja melhor malhar o ferro antes que esfrie.

Vladimir: Estou curioso para escutar a proposta dele. Daí a gente aceita ou não.

Estragon: O que foi mesmo que a gente pediu para ele?

Vladimir: Você não estava lá?

Estragon: Não prestei tanta atenção.

Vladimir: Ah...nada muito definido.

Estragon: Um tipo de oração.

Vladimir: Exatamente.

Estragon: Uma vaga súplica.

Vladimir: Exato.

Estragon: E o que foi que ele respondeu?

Vladimri: Que ia ver.

Estragon: Que não podia prometer nada.

Vladimir: Que tinha que pensar.

Estragon: No sossego do lar.

Vladimir: Consultar a família.

Estragon: Os amigos.

Vladimir: Os agentes.

Estragon: Seus correspondentes

Vladimir: Seus livros.

Estragon: A conta bancária.

Vladimir: Antes de tomar uma decisão.

Estragon: Isso é o normal.

Vladimir: Não é?

Estragon: Acho que é.

Vladimir: Também acho.

(silêncio)