quinta-feira, janeiro 24, 2008

Continuidade

Isto aqui é sobre o momento. O momento, entende? Essa coisa de eternizar o segundo, eternizar a imagem e o som em perfeita sincronia (ou não). Isto é sobre a maravilhosa experiência de se olhar na tela e se ver, se ver em um momento capturado, um momento que não é mais esse. Olhe só: pá. Está vendo? Este “pá” que eu fiz há segundos atrás não se repetirá nunca mais e só teremos a possibilidade de vê-lo novamente porque inventaram o Cinema. E o Cinema se volta, dá a volta, revira a volta e se expõe sem mim. Olhe. (replay do “pá” e de tudo que foi falado depois disto). Entende? Depois que eu dei meu corpo e minha voz, meus movimentos, etcétera, eu me desvinculo do que foi criado e há vida própria. Se eu sair de cena tudo que está aqui atrás continuará sem mim (sai de cena), o mundo continua se movimentando e as coisas continuarão acontecendo eu querendo isto ou não, com a câmera parada ou na mão, em uma grua ou em um tripé. E por isto eu não sou essencial. (volta à cena) O ator, o Humano é desnecessário ao Cinema, percebe? Totalmente desnecessário. Este, o Cinema, nasceu com um trem chegando à uma estação e, sim, haviam pessoas na plataforma ou dentro do trem ou até mesmo pilotando-o, mas tudo seria do mesmo jeito se elas não aparecessem no filme dos Lumiére. Um trem chegando é tão simples e complexo quanto um trem chegando. E por isto que é uma idiotice esta coisa de falar demais sobre atuações ou complexidades dramaturgicas de um filme. Um filme... estamos falando de Cinema e isto é Um Cinema, está além do filme – que é só o material que serve ao espetáculo cinematográfico. Eternizar, entende? Eternizar! Cinema! Porém, nada seria tão interessante se não fossemos nós mesmos na tela... Entende? Nós, nós, nós. O Cinema existe para guardar-nos, capturar nossa alma, nosso momento único, nosso “pá” em hora feliz ou triste, importante ou puf – supérflua.

E também isso diz sobre as diferenças. Eu sou eu e apenas eu posso estar aqui. Ninguém pode se passar por mim, tentar me imitar ou vestir a persona Marina, compreende? Se alguém vier aqui, mesmo sendo o melhor ator do mundo, não conseguirá lhe enganar, porque isto aqui (bate na lente da câmera com os dedos) desnuda quem está à frente dela e – é só prestar um pouco de atenção, ela não mostra inverdades. Uma atuação é reconhecida, a alma é exposta. Você, (se exalta) caro expectador, só acredita naquilo que quiser acreditar. Acredite.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

é vc em seu melhor... rs

sexta-feira, janeiro 25, 2008 8:40:00 PM  

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