O Roteirista Formado

Nessa manhã de domingo penso nas pessoas que me viram pequeno e que hoje não me vêem mais. Por exemplo: as professoras de minha pré-escola ou da 1ª a 4ª série do primeiro grau. Certamente se um dia ainda me encontrarem na rua não saberão que eu sou o eu que era. E penso também que, se por ventura alguém dessas pessoas souber que eu sou hoje o alguém que foi, ficarão orgulhosas ou pelo menos surpresas. Afinal, eu sou de Guararema, filho de pai mecânico e de mãe dona de casa. Essas pessoas todas da pseudo-burguesia paulista, que colocam sempre os mesmos filhos de conhecidos burgueses para escolher o time da queimada em uma aula de educaçã física da 3ª série.

O dia que começou com um sol tímido parece estar dando tchau pra ele, também timidamente. É por volta de uma hora da tarde e acordei há pouco, tomando café da manhã há pouco, vindo deitar em minha cama e fechar a porta do quarto para ler um texto sobre pós-dramaticidade há pouco. Não o terminei ainda, pois NIetzche começou a ser citado e qualquer coisa ou pessoa citando Nietzche me cansa. Penso em comprar uma cama de casal, vendendo a minha de solteiro. Por quanto? Preciso também de um outro computador, uma máquina de lavar roupa (que ao final desta semana eu compro) e… e… e daí só vai faltar mesmo uma guria que goste de mim pra me fazer carinho depois d’eu dormir, sem eu nem sentir. Ah!, estes vinte e um anos que daqui a pouco vão pros vinte e dois… só esse negócio de sexo, drogas e diversão não bastam.

E minhas notas foram (em meu penúltimo semestre de graduação universitária, em médias aritméticamente calculadas por mim mesmo, nada tão oficial):

EMPREENDEDORIMO: 7,75
SOM DO FILME: 9,0
DIREÇÃO CINEMATOGRÁFICA: 8,05
PRÁTICA DOCUMENTAL: 9,0
ESTÉTICA E TEORIA DA MONTAGEM (Análise do Filme): 9,75
DRAMATURGIA: 8,75
FOTOGRAFIA E ILUMINAÇÃO P/ PELÍCULA: 7,25
TEORIA DA NARRATIVA: 9,75
PRESERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE ACERVOS: 8,5

Foram 9 matérias cursadas dignamente! O próximo e último semestre me aguarda com 10… as dez últimas do curso de Cinema da Universidade Estácio de Sá.

Wall-E

Este notebook já não acompanha mais a velocidade dos meus pensamentos e de meus dedos ao teclado. O player já não flui o necessário para a época, para as histórias contadas nos dvd’s que roda. Este Dell que me acompanhou por tanto tempo ficou velhinho. Viu-se, por um momento há tempos atrás, quase ser substituido por um computador branco e prata, operando em sistema diferenciado. Foi levado e trazido de SP para Guararema e de SP para o Rio em todas minhas andanças. Nas horas a fio nos ônibus me entreteve recolhendo meus pensamentos mais soltos pelo movimento físico das máquinas de transporte nas quais estávamos. E presenciou muitas de minhas angustias, tensões e trabalhos. Trabalhou comigo pesado na Raiz Produções, ficou no meu colo durante bom tempo quando eu morava na Barra. Acho que vou guardar o Wall-E de recordação. Deixá-lo em Guararema, talvez, pra eu matar a saudade de sua cor e de seu bom som quando eu for pra lá.

A Máquina

Ao mar do Recreio que me fez pensar nas minhas paixões de outrora. Onde fui perder minha última? Re-imaginar nós dois, encontrá-la em uma festa qualquer, com suas amigas de sua idade e convencê-la de novo que eu sou a melhor coisa que pode te acontecer em qualquer momento. E você fazer aquele não-querer tão deliberadamente frágil! E a saudade de tua mãe e do carinho dela por mim e por minha família e a alegria de teu pai com as coisas que aconteciam. E a liberdade que sempre teve. As ondas fortes do Recreio e a areia fofa e úmida, depois de uma corrida entre o posto 12 e o 9, um pouco à esquerda do posto 10, na volta. E eu quis que você estivesse aqui, correndo comigo e parando pra olhar pro mar e fazer silêncio juntos.

Em verdade, sim, eu preferiria o que é mais provável e está mais perto. Perto - relação temporal. Pegá-la na areia, depois de uma transa em meu apartamento, beijar e respirar em seu pescoço. E quando a onda estivesse perto e ela sem tênis, com eles nas mãos, empurrar seu corpo para água em um susto, tendo que escutar depois seus protestos e desaforos pelo cabelo ou qualquer outra parte menor do corpo molhada. Que vontade de me orgulhar de você e te ter por perto pra apertar por minutos, variando a força do abraço a cada efeito sonoro externo de uma rua guararemense.
E tem coisa que acho que mesmo que eu pudesse escrever não fazê-lo-ia. Estava com vontade de usar uma mesóclise hoje.

Mitos trabalhos, muitos trabalhos na Universidade Estácio de Sá. Final de semestre, final do penúltimo semestre e me formo neste semestre que vem. Fazer estas matérias e trabalhos com estas certezas se torna quase relaxante e as coisas ficam boas pela vontade que se tem (vem de onde?) de fazer tudo bonitinho pra encerrar bem a graduação. Vou estar formado com apenas 12 anos e 1 mês. Daí pra frente é estudar pra valer.

E quero um trabalho sério paralelo. Preciso que me pilhem, senão o que estava em andamento não anda.