terça-feira, novembro 28, 2006

Solidão assistida
Desejo grudado, oposto e calado
O trilho assobia e depois o metrô passa
Passa trem, passa avião

As coisas mais belas não fazem barulho

Sinto-me calmo e disposto
A cabeça está livre
(apesar do inferno do espaço)

Certezas pelo telefone
Novas vozes, novos encontros

Amanhã São Paulo nascerá a mesma
Sem importar-se comninguém, como sempre
Comigo irá a mochila e um tanto
um tanto que é tanto que não cabe
e vaza para as pessoas em volta



Parabéns, mamãe.
Este é o seu primeiro aniversário comigo distante. Eu te amo.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Construir e destruir. Ou construir e fazer manutenção.

É sobre as coisas que vêm à tona quando não se espera. Ou quando se espera, mas se quer maquiar isso.


Triste o fechamento de ciclos e há cautela no começo de outros. Os meus ciclos são tão rápidos! - e preciso saber se isso é bom ou é ruim. Não, não preciso saber isso, eu nunca vou saber a diferença entre bom ou ruim.


E a fluidez do cotidiano de madeira maciça continua. Que eu fique bem e junto de meus amigos de verdade e ache-os, também. Eu amo vocês.

terça-feira, novembro 21, 2006

Gostaria de conseguir falar sobre minhas sensações ao rever fotos de tempos teatrais e lembrar também de tantos outros tempos dos quais não guardo foto alguma. Tantos nomes, tantas lembranças, tantos atritos, tantas coisas boas. As despreocupações, os medos. Tantos conhecidos e pessoas que ficarão pra sempre em minha memória.

No Teatro eu experimentei tudo. As preocupações e a responsabilidade de dirigir, o esforço e suor de atuar, a correria e os relacionamentos de produzir. Não quero dizer que sou um PHD nesta arte, mas que fui a fundo e vi e revi de todos os lados o fazer. Conheci gente interessante, gente importante, gente bonita. Fiquei com uma dúzia delas, foram experiências únicas - as pessoas desse meio têm muita coisa de diferente nestas horas, rs. O Teatro me levou para longe, longe mesmo, talvez os lugares mais distantes que já tenha ido. Ele me aguantou, me sustentou, me proporcionou liberdade de corpo e pensamento e fez de mim alguém conhecido por aquilo que faz, deixa de fazer ou faz irritando os outros. Muita gente quis crer em mim, apostar que eu seria ator, que trabalharia o resto da vida com o palco ou com a ausência dele e foram pessoas equivocadas. O Teatro para mim foi uma experimentação, à qual devo muito, muito muito mesmo. Melhor, devo nada - tudo que ele me proporcionou dei em troca ao próprio.

Tive amigos que são até hoje muito amigos e outros que foram turmas. Nada melhor nem
pior, apenas coisas diferenciadas em tempo. A galerinha, as meninas de Mogi sempre em Guararema, a galera de grupos em São Paulo, as pessoas dos Encontros Estaduais de São José do Rio Preto ou daquela cidade perto de Ilha Comprida que já nem mais recordo o nome. Oficina Cultual Amácio Mazzaropi, Grupo Quântica Teatro Laboratório (onde mais fui ator com o sangue da palavra), Núcleos de Artes Cênicas de Guararema, Teatro Experimental Mogiano... Meu Deus, quantos nomes, quantos rótulos para quase a mesma coisa! Tudo foi bom, tudo foi maravilhoso, vejo hoje.Hoje continuo na administração e produção da cultura, estudando, e por outro canto; e na verdade liguei o computador para dizer outras coisas antes de rever as fotos digitais que essa máquina guarda. Eu iria falar sobre o empreendimento familiar, a brusca nova mudança de ares que é possível, os reencontros paulistanos e a paz de Guararema, que já é tema quase-que-saturado. Mas isso que saiu e mais uma vez percebo que sou tão dono da minha produção quanto qualquer um. Hoje é domingo, dia 19 de novembro, porque amanhã é dia 20 e é feriado em São Paulo - não irei trabalhar. Já é quase uma hora e papai e Shirlei estão chegando para almoçar. Eu amo minha família e São Paulo e as pessoas de lá. Hoje eu stou querendo sair pelo ar puro de Guararema.

Exercício para homem de Vírgula - início de 2006

Como eu já dizia, o homem tem seus problemas.

Sabe uma pessoa que é chamada de estressada, mas na verdade não é o stress q atua? A dor, a dor que é no fígado, a gastrite nervosa crônica... Tão jovem assim, coitado! E não é só a bebida que o deixou assim (pouco tempo ele bebe para que o problema seja tão grande!), foi o fato de ser artista. Sim, o fato de ser artista! Preocupar-se demasiadamente, entende? Preocupar-se com os problemas do mundo, que este acredita que todos sejam seus. A responsabilidade pelas coisas, compreende? A responsabilidade pelo Mundo não andar bem... uma
coisa brechtiniana, operária... Não, talvez não.
Talvez se ele morasse no campo ele seria melhor do fígado. Mas ele não pode, no money, no conditions. Ele sabe pouquíssimo inglês, não sabe pronunciar as palavras de forma correta... Mas ele sabe bastante coisa. Ele não aprendeu, ninguém sentou e ensinou as coisas q ele pensa... Tudo vem do que ele ouve, do que ele percebe, do seu senso perceptivo. Ele escuta, ele vê, ele respira, ele observa quieto. Ninguém precisa saber que ele existe. Ele não acredita ser interessante para que alguém o observe. No fundo ele acredita sim, mas sabe que as coisas estão contrárias demais no mundo pra que alguém observe e dê créditos a uma pessoa como ele. E ele fica mal com isso. Não puto, entende?, mas mal. Remói essa tristeza e quem sofre é o fígado. Ah, o fígado, a maioria do tempo o que está em sua cabeça é o fígado e suas consequências. Tudo, depois do fígado, é consequência do fígado. Entende? Ah, ele se esforça pra q seja simples e compreensível sua retórica, mas se vc não consegue... Não se pode fazer muita coisa, só ter dó. Quem sente isso sou eu, não ele... ele sente-se triste, falido, incompetente por não conseguir, culpado por você, culpado pela existência, culpado.

Ele queria ser um herói, desde criança... passar os dias resolvendo os problemas dos outros e ter os dinheiros q tanto as pessoas à volta dele precisavam. Dos pais eu não sei... ele apareceu assim, sem pai. A história dele, como a minha, não se liga tanto aos pais. Na dele isso não importa. OU melhor, importa sim, sim. IMporta no fato de que marcou, de que foi base, de que foi tudo, entende? MAs só isso, mais nada.

Ele conheceu a Judithe e nunca quis saber o seu passado. Ela nega-o, pouco se sabe. Sabe-se que o pai dela ainda é vivo. Mas pai é pai, num é mãe né... Se fosse mãe, pelo menos queria saber onde ela estaria. Ninguém da família de Judithe nunca entendeu o dom dela, era assim. Desde criança ela ouvia a Rádio Cultura e adorava música clássica. Um dia, com 14, ela descobriu de que instrumento vinha aquele som mágico, e quis tocá-lo. Óbvio suas condições, óbvias suas impossibilidades, óbvia a desaprovação da família. Ela continuou sendo moça óbvia até que conheceu o Homem pintando quadros na praça.e viram que dava para juntar os trapos e viram que o sexo realizado entretia um pouco, dava certo, sabe?! Então viram que um quartinho poderia ser alugado nos fundos de uma loja de rações e animais no centro da cidade.

Qual é a cidade? Eu quero o nome da cidade... Me ajudem!

sexta-feira, novembro 17, 2006

Encontros, PT’s

Cena Z: externa, noite – festa comemorativa.

Grande avenida fechada onde há um trio elétrico e Leci Brandão toca seus sucessos. Lula venceu o 2° turno das eleições. Muito vermelho e branco e na avenida há lugares iluminados pela luz que vaza dos holofotes em cima do trio. Companheiro e companheira se reconhecem de longe, acenam e vão ao encontro em do outro sob uma fenda de luz vazante. Ambos já estão alterados pela bebida; cada um segura uma lata de cerveja “SOL”.

COMPANHEIRO: Oi!

COMPANHEIRA: Oi, e aí?!

(Pausa)

CA: Tudo bem?

CO: Sim, sim. Tudo bem.

(Pausa)

A: Como que estão as coisas? Ainda está dando aula naquela escola da Vila Sônia? Só?

O: Bem, na verdade eu nunca dei aula lá. Sou coordenador dos movimentos sociais daquele bairro, só uso a escola de vez em quando...

A: Ah sim, é verdade, desculpe.

(Pausa)

O: E suas dores na coluna? Procurou um médico? Elas acabaram?

A: Dores na coluna? Como você sabe de minhas dores na coluna?

O: Ora..., enfim... você reclamou... você reclamava...

A: Não... mas, eu só tenho essas dores quando...

O: Pois é, uai, eu sei.

(Pausa)

A: Peraí, eu não estava tão bêbada assim...

O: (silêncio)

A: A gente nem saiu do show, ficamos lá... Eu lembro! Ficamos lá até acabar, os garis já passavam limpando a avenida... Fazem 4 anos, não faz tanto tempo assim. Daí então eu fui pra casa, você me levou, sim, eu lembro, mas você não entrou em casa, eu não me lembro disso.

(Pausa)

A: Você entrou?

O: Entrei e só iria conduzi-la até a cama, acomoda-la e ir embora... Mas você insistiu que bebêssemos um pouco de vinho e viramos uma garrafa e o que se segue talvez seja o que você não lembra.

O: Mas eu não forcei nada, queria dizer isso.

(Pausa)

A: Claro que não. Você me deixou na porta de casa, eu subi, verifiquei se a Diandra estava em seu quarto, ela estava, fui para o meu e dormi.

O: Então como eu sei de suas dores na coluna?

A: Eu te contei. Nosso papo estava solto... eu acabei te dizendo que sinto dores na coluna com alguém em cima de mim, se movimentando, enfim... Não use essas informações para dizer pras pessoas do comitê que transou comigo; poxa, isso não é legal.

O: Ok, tudo bem.

(Pausa)

O: Você quer carona hoje? Está de carro aí?

A: Eu iria embora de metrô, mas se puder...

O: Sim, sim... vamos. Vamos pegar mais uma cerveja, o tempo está quente hoje.

Leci Brandão canta Canção da América em ritmo de samba.

quarta-feira, novembro 15, 2006


Eu poderia nomear as faltas que eu sinto agora com sua ausência, mas primeiro tenho a vontade de enumerar as faltas que sentia junto a você. Matar um coelho com duas cajadadas, acabar de vez com a maioria das coisas que se encerram em meus pensamentos. Quero conseguir isso.
Por um ano e meio vivi coisas novas. O não sair com os amigos porque eu tinha uma namorada; o preferir ficar sossegado pensando em alguém em minha casa, em São Paulo, pensando no quanto era bom ter alguém em quem podia confiar, com quem podia contar a toda hora; o poder dizer "minha namorada não curte isso", ou "minha namorada disse ...". Confesso, eu gostei de ter esta experiência de namorar, por mais que algumas vezes a experiência foi apenas minha. Por mais que a maioria das vezes. Ainda preciso de alguém como você. Preciso ainda de alguém que se preocupe comigo mais do que com qualquer um. Ainda preciso de alguém com quem eu me preocupe e diga pra minha mãe que gosto, apesar de qualquer coisa.
Lembro do começo de tudo e de um pouco depois também, quando eu via um avião se espelhar no seu olhar, até sumir. Lembro dos dias em que o céu reunia-se à Terra, um instante, por nós dois. Lembro, ao contrário do que eu consigo dizer, que houveram momentos lindos e únicos e seria pobre falar sobre cada um deles pra ti. Lembro dos momentos teatrais que nunca foram completos, nossas conversas, nossos pensamentos que nunca estavam no mesmo linear. Sempre vou lembrar de sua família, do carinho deles demonstrado muitas vezes por mim. A sua avó, o seu avô, a sua mãe, o seu pai. A Kitty! Ao encontra-los, vou sempre lembrar de seus amigos, mas não de seus nomes. Vou lembrar de nossas intimidades, que poucas vezes foram encaradas com normalidade por ti. Tantos lugares pelos quais talvez eu nunca mais passe só poderão lembrar você. E todas estas coisas do pós.
Pergunto-me se conseguirei achar alguém, no tempo que tenho, que possa cobrir sua fenda e cumprir tudo o que já me prometestes um dia. Tanta conversa jogada fora, tanta baboseira momentanea, tanto tempo perdido - às vezes penso, mas não tenho certeza. Tenho 18 anos e tenho tempo. Mas penso como foram os meus 17. Não sei o que podia ser diferente, o que podia ser melhor, quanto tempo eu fui covarde e quantas vezes a solução me era clara e eu não quis entendê-la. Mas acontece que, por outro lado, nesse tempo só tem um nome, que o marcará, que é o seu. Talvez mais adiante eu não lembrasse do que acontecia em meus 17, e com você tenho certeza de que recordarei.

ruas do itaim, o vento, o deserto, os bares meio cheios e a coca-cola pra tomar. aquela vontade de chorar que voce sente quando pensa em seus pais, na morte, na ausencia, e a distancia pesa, a falta de informaçoes momentaneas apertam o peito. a expressao aperta o peito é recorrente. eu gosto de escrever no bloco de notas e não gosto de perder tempo escrevendo. eu acho que deveriamos ter um tempo que não passasse, que fosse out, para podermos escrever. neste tempo a unica coisa por lei que tenho que fazer e escrever, portanto se eu não produzir nada escrito eu não devo fazer nada. aí veríamos quão bons somos.

domingo à noite soa calmo e interessante em são paulo, essa cidade que vai se tornando a cada dia mais minha. tudo é muito grande, extenso, vasto. o territorio é riquíssimo para exploração. e não é preciso ir à barzinhos ou coisa do tipo... é só descer do seu apartamento ou andar pelas ruas de seu bairro e ouvirá passaros cantando, cachorros latindo e gente pensando como em qualquer cidade.

não, eu não estou mal. eu estou reflexivo. por que é que sempre se acha que uma pessoa que pensa está triste. pensa-se para produzir e a produção não necessaiamente é também reflexiva... muitas vezes ela se basta. eu penso em meus pais, como já dito. eu lembro de meus amigos, eu lembro de humilhações e converso sobre elas, sobre toda a vida com quem está do meu lado.
eu queria achar um sentido para todos estes relacionamentos, essa convivência. sexo não é sentido, é nexo. amizade é necessária, não é noção. família é base sólida deixada no passado. e então o que resta. eu quero mais com esses dezenove anos, eu quero explodir, vazar, rachar o solo, gritar, pular da janela e descobrir que posso flutuar acima de qualquer teoria de base ou nexo. quero descobrir um novo horizonte fora das ilusões do cotidiano. um novo fim, uma nova carne, outra superfície, outro quê. alguém inda precisa me dar a mão pra eu poder sair e ver o sol. não.
dezenove, 19, a ultima idade teen. a crise já é sabida, escrita por tantos outros antes de mim. ok, não continuarei com metalinguagem.

eu tenho a certeza de ter amigos, mas isso não basta de maneira alguma. a esperança de alguém que me ame tbm não me conforta. a existência de minha família maravilhosa não vai além disto - ela existe sim, e...
já é uma hora da manhã e minhas noites a cada dia são menores. estou dormindo pouco faz tempo. não sei se isso está me fazendo uma melhor pessoa ou mal. escrever agora me motiva, ali a janela, lá fora, se olhar, vejo a faria lima bem próxima mas agora não escuto nada. sim, agora acho que o tempo parou.

tem gente que eu quero experimentar. experimentar a alma, sabe... esperar me deixa inconstante. isso não é amor, acho que pouca coisa é amor, eu sei pouco o que é amor. sei o que é dependência, querer infinitamente bem, mas amor eu não acredito que exista. tudo é imperfeito demais. ninguém vai nem vai querer me mostrar o contrário. (na verdade eu gostaria que alguém quisesse e tivesse força pra isso.)

quanta loucura, quanta menta corre em minhas veias... a loucura dos que produzem, dos que vão atrás, dos que destroem uns para se construirem em cima, dos que querem sempre mais que ontem. eu quero um amor, eu quero estar bem, eu quero cinema, eu quero arte, eu quero revolução, eu quero minhas coisas, eu quero minhas viagens, eu quero conhecer, sair, voar, pular da janela e sentir que estou livre, que não preciso de uma tela de computador para ler os códigos binários. eu quero batidas, eu quero coração, música, suor, cerveja, brinquedos, diversão, amigos, realização. eu quero mais do que tudo, eu quero todos.